Amapá – o Estado mais pobre do Brasil em 2022 (e sugestões para mudarmos esta situação)

 


 

               No início deste ano de 2022, logo após o Réveillon, veiculou-se na mídia uma terrível notícia para os amapaenses: nosso Estado assumiu o vergonhoso posto de primeiro lugar da lista dos Estados da federação com maior percentual de pobreza entre sua população. Segundo os dados apresentados nos jornais e amplamente compartilhado por várias pessoas - pelo menos aquelas com as quais que eu tenho contato por meio das redes sociais - o Estado do Amapá ultrapassara o Estado do Maranhão e, com 56% de seus habitantes possuindo uma renda média abaixo de US$ 5,50 por dia, o que equivale a cerca de R$ 450,00 por mês, o Estado iniciou 2022 como o mais pobre do Brasil.

               Confesso, amigo leitor, que recebi essa notícia com profundo desgosto. Que tristeza senti! Entretanto, não há como discordar da veracidade desses números. O que temos observado nos últimos anos em vários setores de nosso Amapá é um retrocesso gritante. Crises energéticas, falta de saneamento básico, desemprego crescente, baixo desempenho nas avaliações nacionais de educação, a violência e insegurança tomando conta das ruas, crescimento desorganizado nas cidades, escândalos de corrupção, descaso com os serviços públicos, falta de incentivo ao empreendedorismo, caos na saúde pública, abandono em massa de amapaenses em busca de oportunidades fora... a lista é longa.

               Alguns desses problemas não são nada novos, porém tudo tem se acentuado e tomado proporções catastróficas. E agora esse ranking de pobreza veio para confirmar o que empiricamente havíamos percebido. Em meio a tudo isso, eu refleti, procurei ler um pouco mais, conversei com vários amigos sobre quais as possíveis causas dessa calamidade atual e sobre o que poderia ser feito a respeito. Vieram-me à mente uma série de ideias que eu tive há muitos anos, e por vezes cheguei a comentar com outrem, e outras que me foram apresentadas, e resolvi, portanto, escrevê-las, desenvolvê-las um pouco mais na esperança de que outras pessoas a abracem. Antes, porém, de discutirmos soluções para os problemas – se me permite, caro leitor – faço um desabafo pessoal sobre o meu sentimento em relação ao que estamos vivendo.

 

Primeiro lugar em pobreza – como chegamos a isto?

               Não pretendo aqui realizar uma análise socioeconômica ou mesmo um estudo político acerca da realidade amapaense. Sou apenas um professor de química e física e deixo essa tarefa para nossos bons historiadores, geógrafos, filósofos, sociólogos, economistas e cientistas políticos que temos em nosso Estado. Venho aqui simplesmente como um amapaense, nascido e criado nesse Estado tão jovem de nosso Brasil, cheio de belezas naturais e culturais, porém tão esquecido pelos seus governantes, externalizar um sentimento e uma preocupação. No Amapá estudei e me formei, no Amapá eu trabalho e ganho meu sustento, no Amapá estão minha família e amigos mais próximos, no Amapá estão os meus alunos, meus sobrinhos e primos menores. No Amapá conheci a mulher que eu amo. Em resumo, neste Estado estão muitas das pessoas que me são mais queridas e sei que esse mesmo sentimento se aplica a muitos amapaenses. Logo é uma preocupação natural que surge, em meu coração e em minha mente, a busca por melhorias para nossa gente.

               Lembro-me que o Amapá já foi a “terra das oportunidades”, o local que atraía gente de todo o país pois prometia progresso e prosperidade. Eu mesmo sou neto de paraenses e nordestinos que para cá vieram fazer suas vidas pois esta terra das bacabas lhes dava condições de construir seu futuro, e assim o fizeram. Da mesma forma que na minha família, muitos dos meus amigos possuem histórias semelhantes. Até hoje dizem que todo amapaense tem um parente no Pará, também é muito comum que no seu bairro haja uma panificadora, um mini-box, uma mercearia ou um bar que seja de um cearense, maranhense, potiguar, paraibano, etc. Com certeza você amapaense, assim como eu, teve professores na escola que nasceram em outros Estados. Já deve ter visto também algum empreendimento chamado “tal coisa” do goiano, do mineiro, do gaúcho, do paulista, e por aí vai.

               Como então o Estado que antes atraía tanta gente, agora os afasta? Como foi que saímos de um lugar que antes oferecia esperanças àqueles que escapavam da seca do nordeste ou do desemprego nos grandes centros e chegamos a ser um repelente para nossos jovens? Eu penso que falhamos em oferecer-lhes oportunidades, talvez porque ainda estamos presos a políticas atrasadas vinculadas à famílias que mais se preocupam em manter-se no poder e garantir sua hegemonia do que realmente com o bem-estar da população, talvez porque insistimos em pensar pequeno economicamente evitando nos modernizarmos e industrializarmos agregando valor a nossos produtos e gerando emprego e renda para a população, talvez porque sempre fomos esquecidos pelo governo federal que, por nossa posição geográfica, sempre nos tratou como periferia e nos marginalizou. Pode ser tudo isso e muito mais.

               Já faz uns anos que tenho viajado pelo Brasil, quase sempre por razões de estudo e trabalho, e em todo lugar que vou, ao falar que sou amapaense sempre recebo os seguintes comentários: “Nossa! Primeira vez que falo com alguém de lá!”, “E como é lá no Amapá? Nunca ouvi notícias desse Estado”. Talvez por isso eu desenvolvi uma forte vontade de estudar e conhecer mais sobre nosso Estado, nossa história e nossa cultura, e as propago sempre que tenho oportunidade. O brasileiro médio não nos conhece.

Isso também desenvolveu em mim uma sede de me capacitar e me aperfeiçoar fora, mas quando possível e necessário voltar e ajudar a desenvolver o nosso Estado, e sinto que posso contribuir com isso por meio da Educação, que é minha área de formação e atuação profissional. Não critico os amapaenses que têm vontade de sair e fazer sua vida em outro Estado ou outro país, cada um tem seu direito a ir aonde quiser e fazer suas escolhas, da mesma forma que nossos pais e avós vieram ao Amapá. Acho inclusive importante termos amapaenses lá fora nos representando nas mais diversas atividades. Porém, no meu caso específico, pretendo sim retornar e ajudar os jovens estudantes de nossa terra.

               Passo agora a discutir uma série de ideias, sugestões, que não são, entretanto, projetos acabados e definitivos, mas sim uma provocação para que mais pessoas com formações e experiências específicas e, sobretudo, amor por nosso Amapá, possam abraçá-las e desenvolvê-las.

 

A crise energética

               O Amapá possui atualmente quatro usinas hidrelétricas e uma termoelétrica e produz mais de três vezes a energia necessária para o próprio abastecimento. Contudo, a maior parte dessa energia é destinada a abastecer os outros estados do Brasil e escoa através do linhão. A parte que sobra é muito mal distribuída para a população através de uma rede precária, sucateada e que nem sequer chega a todas as localidades do Estado, mesmo nos dias de hoje.

               Se tem um Estado do Brasil que não deveria sofrer com falta de energia é o Amapá, isso devido ao imenso potencial parra produção de energia por meio dos rios, dos ventos ou da luz solar, entre outras. No entanto, nossa população passa penúrias com os sucessivos apagões, e em 2020 o estado experimentou cenas apocalípticas no mês de novembro, com as pessoas tendo que se sujeitar à humilhação, sem possuir de maneira digna sequer água, gelo, comunicação, dinheiro, combustível e medicamentos, tudo isso causado pela absurda falha na resolução dos problemas de distribuição de energia. Passamos vergonha em rede nacional com o caos instaurado, o que apenas transpareceu perante o país o atraso que é a realidade do Amapá.

               Não se pode falar em melhoria da qualidade de vida da população, no século XXI, sem uma garantia básica de boas condições de fornecimento de energia. Além dos sucessivos aumentos na tarifa, não raro ocorrem perdas de eletrodomésticos por instabilidade nas redes. Sem um sistema energético eficiente, encarece-se ou mesmo inviabiliza-se a operação de vários empreendimentos, o que se reflete na ponta do processo no preço dos produtos e ofertas de empregos.

               É necessário chamar a atenção das pessoas e instituições responsáveis pelo setor energético para a urgência da ampliação e modernização do sistema de geração e distribuição amapaense, buscando fontes alternativas de energia, instalando sistemas de apoio caso algum entre em falha, priorizando o consumo da população local e vendendo o que sobra para os demais Estados, não o contrário.

 

A indústria amapaense

               A indústria é o que gera a riqueza. Precisamos produzir mais e melhor. Isso significa que devemos estimular o empreendedorismo no Estado o que se inicia com uma séria revisão das questões legais e tributárias. É muito difícil, hoje, abrir e manter uma empresa no Amapá.

               Possuímos muitos produtos de qualidade que precisam ser melhor vendidos e há potencial para produzirmos muito mais e diversificar nossa produção. Não precisamos ser somente fonte de matéria prima, devemos agregar valor aos nossos produtos.

               Soube, há uns anos, que o Amapá é um Estado deficitário, isto é, produz muito menos do que gasta para se manter. Isso significa que o Amapá precisa dos repasses do governo federal para se manter de pé e, salvo engano, esses repasses representam (ou já chegaram a representar) 70% de todo o capital amapaense. E quando esse repasse falta, a economia local se desestabiliza, com atrasos e parcelamentos no setor público, o que se reflete no setor de serviços. Isso é um absurdo! O nosso Estado não se banca, nunca passamos de um adolescente sustentado pela mesada do “papai” Brasil, que nos enxerga como um prejuízo, uma “boca” para alimentar.

               É certo que é dever do governo federal auxiliar o desenvolvimento dos Estados e municípios, mas não podemos depender disso, e nem nos acostumarmos com essa realidade, o que é ainda pior. É preciso que geremos nossa própria renda e isso não acontecerá de outro modo senão investindo em produção seja de alimentos, de minério, de artesanato, material de construção ou outro item.

               Acredito que possamos desenvolver empresas locais que ofereçam emprego à população, gerem renda e estabilidade econômica e tragam dinheiro de fora para nosso Estado. Pelo menos assim nossos jovens não precisarão se formar apenas com a perspectiva de fazer concurso ou se empregar no comércio, mas sim também de atuarem em nossas linhas de produção.

 

O Turismo

               Este é um setor dentre os menos aproveitados no Amapá. É incalculável o quanto poderíamos estar ganhando a partir do turismo em nossas cachoeiras, balneários, florestas etc. Não só isso, mas divulgaríamos e venderíamos para o resto do país e para o mundo a nossa rica culinária, nossos artesanatos, música, dança e cultura no geral. Valorizaríamos o trabalho de nossos artistas ao mesmo tempo que colocaríamos o Amapá “no mapa” e nos destinos de quem deseja conhecer a Amazônia (o que não é pouca gente).

               Não é possível, contudo, falar em turismo sem uma mudança estrutural séria. Boas estradas, bom sistema de transporte com horários regulares, bom sinal de internet, hospedagens confortáveis nos locais destinados ao turismo, atividades diferenciadas, só para citar algumas. O turismo histórico é um de nossos potenciais, o Amapá possui uma rica herança indígena, negra e europeia, que certamente precisa ser melhor valorizada e explorada. O Eco turismo também é uma opção forte, poderíamos explorar as trilhas, corredeiras e cachoeiras, tentar reavivar o surf, instalar locais de rapel, arvorismo, escalada, pedal, pesca, flutuação, mergulho e muito mais. Recebi com satisfação a notícia de que algumas empresas começaram a ofertar esses serviços em Macapá, mas ainda estamos longe do ideal e podemos avançar.

               Relacionado a este tema, cabe ainda outra discussão. É costume do amapaense quando viaja para fora do estado levar uma “cuba” ou isopor cheio de açaí, farinha, jambu, castanha, polpa de cupuaçu e taperebá, peixe salgado, camarão, gengibirra ou qualquer outro de nossos produtos. Eu mesmo já fiz isso em algumas ocasiões e nunca deixo de perceber a expressão de surpresa dos meus amigos e conhecidos ao ter contato com muitos desses itens pela primeira vez em grande parte dos casos. Já ouvi por vezes que nossa culinária nortista é a menos conhecida. No sudeste, onde moro atualmente, é fácil encontrar comida mineira, baiana, gaúcha, ou outras, mas não a nortista. Ou seja, precisamos vender mais isto, tornar nossa culinária mais conhecida, a maioria dos que a experimentam a elogiam. Uma das formas é atrair as pessoas ao nosso Estado para que elas comprem nossos produtos e divulguem entre os seus amigos e familiares.

 

A mineração

               O Amapá possui uma história de mais de 70 anos de exploração mineral, porém pouco lucrou com isso em todas essas décadas. Isso se formos considerar apenas a mineração formalizada, pois a exploração informal (por exemplo, a atividade garimpeira), remonta aos séculos XVI e XVII.

               É absurdo pensarmos que possuímos reservas gigantescas de ouro, ferro, manganês, caulim, e diversos outros minérios, porém a exploração disso que deveria garantir boa parte do sustento de nossa população ocorre de forma tão desorganizada e até injusta, considerando o percentual que realmente se reverte em benefícios públicos.

               Sabemos que há muito em jogo no setor mineral, como o alto investimento inicial, a necessidade de regulações ambientais, entre outros. Mas a verdade é que é possível estabelecer a exploração mineral sustentável e consciente, bastando para isso que haja um interesse mútuo entre Estado e empresas. Eu mesmo concordo com a necessidade de proteção de nossa rica natureza, porém isso não significa mantermo-nos atrasados em relação aos setores cruciais de desenvolvimento.

               Na época da ICOMI, incalculáveis quantidades de manganês foram retirados do Amapá por um preço mínimo. O mesmo manganês que é usado como reforço em ligas como o aço usado em peças de automóveis e demais aplicações. Porém, o amapaense que queira comprar um jogo de aros de liga leve para seu carro deve desembolsar acima de 4 mil reais, o mais barato. Isso é apenas um exemplo de como devemos mudar nossa sistemática de exploração. Não podemos vender para sempre apenas matéria-prima barata e pagar caro pelo produto fabricado com ela. É preciso beneficiar nossos produtos aqui, agregar valor a estes.

 

Navegação

               Aqui eu gostaria de começar com um exemplo. Há algumas décadas, a Finlândia era considerado um país de segunda linha na Europa, relativamente atrasado em relação a outros como França, Inglaterra e Alemanha. Hoje, porém, este país ostenta o posto de um dos mais desenvolvidos em educação, saúde pública, segurança, isto é, qualidade de vida no geral. O que mudou?

               Obviamente não foi um único fator que influiu na revolução daquele país, mas um específico foi chave: a exploração inteligente dos recursos de que o país dispunha. Por ser absurdamente frio e coberto de gelo boa parte do ano, não havia tantas áreas disponíveis para que a agropecuária fosse o fator de desenvolvimento do país, a pesca era uma opção, mas sozinha não dava conta de alavancar a nação. Até que eles perceberam o que estava em sua frente: o mar. Investiu-se em construção de navios e todo tipo de embarcações, utilizando a reserva de ferro que o país possuía, e vendeu-se isso ao mundo. Hoje a Finlândia é um dos principais fabricantes de porta-aviões, submarinos e todo tipo de navios, e os recursos adquiridos com a navegação foram revertidos em desenvolvimento para a população.

               Penso que nosso caso é semelhante. Devemos investir no que está próximo de nós, em nosso potencial. O Amapá está localizado na foz do maior rio do mundo em volume de água, pertencemos à maior bacia hidrográfica do planeta e temos dezenas, senão centenas de rios navegáveis. Deveríamos ser referência mundial em portos, transporte fluvial e fabricação de embarcações. Precisamos investir nisso urgentemente, a Amazônia deve ser a entrada e a saída de mercadorias através do Atlântico, nossos portos na região Norte devem ser os melhores do país, o transporte de passageiros deve ser expandido, barateado e aprimorado.

 

Madeira

               Certa vez eu me encontrava saindo da UEAP enquanto conversava com um amigo também técnico da instituição, da área florestal, e vimos um caminhão carregando dezenas de folhas de compensado. Ele então me disse que era madeira processada vinda do Estado do Pará para ser vendida nas lojas de Macapá. Eu achei aquilo um absurdo! Nós possuímos um potencial gigante de produção e beneficiamento de madeira, como precisamos ainda comprar madeira vinda do Pará?

               Mais uma vez, assim como no caso da mineração e da geração de energia, é preciso levar em conta os fatores ambientais. A preservação das florestas e da biodiversidade é um fator crucial, porém o desenvolvimento sustentável é real e possível, é preciso avançar na exploração racional e consciente de nosso potencial madeireiro. Sendo realizado de forma eficiente, creio que seja possível abastecer nosso mercado local e ainda sermos fornecedores de madeira legalizada e de qualidade para o restante do país.

 

Agricultura e alimentos

               Há alguns anos enfrentamos uma alta de preços do tomate e da batata, entre outros produtos agrícolas. Alguns vão lembrar que as notícias mencionavam que a falta de chuvas na região centro-oeste do Brasil ocasionou uma diminuição da produção das fazendas e a consequente escassez destes produtos que eram distribuídos para o resto do país.

               Minha indignação nesse caso foi semelhante à que expressei acima quando comentei sobre o setor madeireiro. Temos total capacidade de plantar vegetais suficientes para alimentar nossa população e ainda colocar esses produtos nos supermercados do resto do país. Por que ainda não fazemos isto?

              É preciso uma renovação no setor agrícola, de modo que os órgãos reguladores e fiscalizadores não atuem para dificultar a atividade do produtor rural, mas sim de incentivá-lo e de garantir a plantação de forma eficiente e ambientalmente correta.

 

A ponte Macapá-Belém

               Aqui neste tópico eu sei que correrei o risco de não ser levado a sério por muitos leitores, pois das várias vezes que já coloquei este assunto em rodas de conversa fui até taxado de louco. Mas sim, eu acredito na possibilidade da interligação rodoviária do Amapá com o restante do país, e isto poderia se dar, por exemplo, com a construção de uma ponte ligando Macapá a Belém, isto é, a capital do Amapá com a capital do Estado mais próximo.

               Estou consciente do tamanho dessa obra que chega a ser algo faraônico, mas não impossível. A longo prazo, o dinheiro investido não só seria recuperado como o lucro seria da casa de milhões. A começar pela diminuição dos absurdos preços de passagem aérea, uma vez que agora teríamos a opção de viajar de carro, gerando concorrência. Mais produtos chegariam com facilidade ao nosso mercado, uma vez que não precisariam vir pelo demorado transporte de balsa já que agora os caminhões fariam o transporte. As balsas ainda seriam necessárias para o atravessamento de diversas mercadorias, mas agora a preços menores, visto que não seriam mais a única opção. O preço do combustível provavelmente diminuiria pelo mesmo motivo. Mais turistas viriam ao Amapá, o que beneficiaria ainda mais o Estado, conforme já mencionei num tópico acima. Sem contar que, como já possuímos a ponte binacional no Oiapoque, o país inteiro estaria totalmente interligado ao platô das Guianas por estradas, o que provavelmente aumentaria o transporte de pessoas e produtos entre países vizinhos.

               A ponte Macapá-Belém seria também, por si só, uma atração turística. Ela não seria uma ligação contínua entre as duas cidades, senão formada de vários trechos passando pelas ilhas na foz do Amazonas. Vários complexos poderiam ser construídos em cada trecho, melhorando também a vida da população local, já que a locomoção e comércio seriam estimulados. Ao olhar no mapa, é possível teorizar vários trajetos por onde ela poderia passar, visando a menor distância bem como menor necessidade de longos trechos sobre o rio, aproveitando ao máximo as partes sobre terra firme sobre as ilhas. Inclusive ela poderia não sair diretamente de Macapá, e sim do município de Mazagão.

               Seria necessária uma cooperação entre os governos dos dois Estados, junto com o governo Federal e a iniciativa privada para conseguir os recursos necessários à obra, mas isto representaria um avanço sem precedentes para a o Amapá e para a Região Norte como um todo. A obra geraria milhares de empregos não só durante os anos de sua construção como posteriores, em razão de todas as atividades que ela estimularia.

 

Ciência e tecnologia

               Por fim, gostaria de destacar que o Amapá não precisa se destacar somente por questões relativas ao rio, à floresta ou à fauna e a flora. Nós também podemos, e temos potencial para isto, ser referência em ciência e tecnologia dentro do Brasil.

               Meu objetivo nesse ponto é chamar a atenção para a necessidade de investimento de capital em pesquisa, desenvolvimento e inovação. O financiamento de projetos de pesquisa básica e aplicada, de produção científica e de patentes e formação de pessoas é uma necessidade. Todos os países desenvolvidos só o são porque investem em ciência. Nosso país também deve fazer o mesmo e nosso Estado pode estar no centro disto.

Além das já mencionadas atividades agrícolas, mineradora, pesqueira e demais que podem servir tanto para desenvolvimento econômico como campo de estudos científicos, pode mencionar ainda a pesquisa em saúde, clima, arqueologia, astronomia e novos materiais.

               Na saúde por exemplo, temos muito tipos de medicamentos e tratamentos que podemos desenvolver baseado no conhecimento sobre os produtos naturais amazônicos. O desenvolvimento de novos materiais também é um tema muito relevante visto as diversas possibilidade de materiais mais eficientes e economicamente viáveis que podem ser utilizados em construção civil e muitas outras aplicações.

               A meteorologia também é um campo de estudo que grande potencial no Amapá por estarmos localizados num ponto que mescla diversos tipos de ambientes e variações de fatores naturais como ventos e chuvas. A Arqueologia tem muito a crescer pois recentemente novas descobertas têm sido feitas sobre a história dos povos que habitaram essa região, suscitando vários debates sobre os modos de vida e inclusive sobre o conhecimento e tecnologia que os povos amapaenses primitivos possuíam.

               Por fim, a astronomia é um dos mais promissores, em virtude de nossa localização estratégica sobre a linha do equador. Ainda que estejamos localizados em uma planície e num local chuvoso, há possibilidade de observação astronômica em várias épocas do ano. Não só isso, mas o Amapá seria o local ideal para a construção de uma base de lançamento de satélites e foguetes. Para se ter um exemplo, foi por esta proximidade ao equador que a ESA (Agência Espacial Europeia) construiu e mantém a base de lançamentos em Kourou, na Guiana Francesa.

 

Conclusão

               Como afirmado no início, esse texto visa levantar a discussão e provocar as pessoas com formações e experiências específicas nas áreas mencionadas e em outras que não fui capaz de abordar (segurança pública, saúde, habitação etc.), com o objetivo de pensar o desenvolvimento do nosso Estado do Amapá.

               Certamente há muitas lacunas em minha apresentação, mas espero ter passado um pouco do sentimento de preocupação com a situação atual do Amapá e do anseio de buscar soluções para os problemas de nossa terra e de nossa gente.

 

                                                                     São Carlos - SP, 07 de março de 2022. 

Agradecimentos: Gérson Lopes, Henrique Andrade, Albino Lutiani, Luís Marlos, Francisco Gean, Rita de Bem e diversos outros amigos e alunos.


Links para as notícias sobre o ranking de pobreza no Brasil em 2022:

 

1)    pontodapauta.com.br/politica_view.php?id_noticia=125964#:~:text=O%20ano%20de%202022%20inicia,Estado%20alcançou%2056%25%20da%20população.

2)     http://pontodapauta.com.br/politica_view.php?id_noticia=125432

3)     https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/08/30/pobreza-avanca-em-todos-os-estados-menos-3-com-a-pandemia-diz-pesquisa.htm

4)     https://chicoterra.com/2022/01/06/jornal-dos-municipios-escancara-situaca-de-penuria-sem-precedentes-na-historia-do-amapa/

 

Comentários

  1. Seu texto ainda que utópico em algumas partes é inspirador, é maravilhoso ver que não somos poucos os que sonham com o desenvolvimento sustentável da nossa terra! Em adição, precisamos de um porto melhor equipado pra escoar produção e talvez uma malha ferroviária pra facilitar o transporte de produtos também.

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    1. Obrigado por seu comentário. Sim, precisamos sonhar com a melhoria da nossa qualidade de vida, e agir para transformar o sonho em realidade. De fato, um porto apropriado faria toda a diferença para melhor.

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