Resenha: N. SRI RAM. Um Vislumbre da Realidade

 

Livro:             Um vislumbre da Realidade.

Autor:             N. Sri RAM.

 

Resenha por:  Gerson Anderson de Carvalho Lopes

 

            De uma profundeza notável, embora não surpreendente para quem já conhece outras obras do autor, “Um vislumbre da Realidade” é como uma chave para destrancar as portas da compreensão de quem se aventura pelo entendimento do mundo, da vida, da verdade, da razão das coisas e do Uno.

            Dito pela minha experiência ao ter contato com o livro, é preciso estar aberto e receptivo para que a mensagem contida nele chegue não só à mente como ao interior do leitor. Quando realizada em momentos diferentes, com atitudes mentais e emocionais diferentes, foi como se a leitura fosse de outro livro. Até aquelas partes a princípio impenetráveis se mostraram mais claras e simples sob um segundo olhar mais calmo e atento, sem pressão externa e com genuíno interesse.

            No livro, o autor fala de uma Realidade (com R maiúsculo) para além das aparências, relacionada às causas de tudo que há na existência. Ele mostra como essa Realidade está presente em tudo, inclusive em nós mesmos, quais as faculdades que precisamos desenvolver para percebê-la, envolvendo a imaginação, a mente e o coração puros.

            Sri Ram também explica que o conhecimento dessa Realidade é a verdadeira sabedoria e que quem a encontra goza de genuína felicidade. O filósofo também explica que há um corpo de conhecimentos geral e ordenado, a Teosofia, que é o método para compreender essa Realidade. Ele também deixa claro que não se pode entrar em contato com ela apenas pela compreensão, mas sim por uma vivência e modo de ação baseado na retidão e no amor altruísta.

            Todos esses ensinamentos vêm permeados de exemplos, analogias, explicações de trechos de obras clássicas do pensamento universal do oriente e do ocidente, relações com outros autores e com fatos da história antiga e recente. Não à toa Sri Ram se destaca como um dos maiores pensadores do século XX, um expoente indiano que trouxe também muito ao ocidente dessas verdades há muito tempo guardadas.

            A obra claramente é demasiada profunda para que se possa afirmar que foi compreendida completamente numa única leitura, à maneira dos verdadeiros filósofos, até porque a profundidade alcançada na leitura é proporcional ao grau de compreensão já possuído pelo leitor. Por isso vale muito a pena ser lida, inclusive mais de uma vez, com o intervalo de alguns anos.

 

Agradecimentos: ao professor Gonzalo Ferreyra, que me sugeriu a leitura deste livro.


São Carlos – SP, 20 de fevereiro de 2024.

 

Resumo do livro:

 

Aparência e Realidade

 

            A aparência tem uma influência enorme na nossa vida e entendimento do mundo, desde o movimento aparente dos astros no céu até o comportamento humano. É importante distinguir aparência de realidade.

            A ciência mesmo já percebeu que a Realidade não é somente material, também há que se considerar, por exemplo, a natureza da mente ou da consciência. As concepções metafísicas da Índia dizem que a Realidade é indescritível, mas é uma, completa e imutável. Buda disse que a Realidade é o Nirvana, por ele alcançado. Para o homem religioso, Deus é única Realidade. A ciência considera real, no seu empirismo, o que é capaz de detectar e perceber.

A única conclusão e que a Realidade é muito maior do que aquilo que possuímos órgãos dos sentidos ou instrumentos para perceber.

 

Perfeição em Pensamento e Realidade

 

            Generalizamos Espírito e Matéria como as duas Realidades últimas da existência. Outro par primordial de complementares é o Absoluto (imanifestado) e o Relativo (manifestado).

            A realidade percebida pela mente só é capaz de compreender pela diferenciação. Se houvesse uma única cor no universo, não haveria percepção de cor. Sua percepção se dá no contraste. Há uma outra faculdade no homem capaz de postular uma unidade, o absoluto, a Realidade. O homem busca naturalmente esse Além.

 

Realidade, Subjetiva ou Objetiva?

 

            Sujeito e Objeto são extremidades de um relacionamento na consciência, que se identifica como sujeito e está perceptiva do objeto e o exterioriza. A mente é considerada na Filosofia Indiana como um aspecto ou instrumento do conhecedor, e não o próprio conhecedor. A ciência ocidental reconhece como de sua alçada apenas o objetivo e material. Contudo, o conhecimento de qualquer coisa material é um ato de interpretação puramente subjetiva. O senso do que é real é subjetivo para cada indivíduo. Pode-se dizer que a realidade é psicológica, mas não significa que seja imaginada.

            A questão sobre a Realidade é até que ponto a experiência é atribuída a uma causa com existência objetiva, fora da experiência. Pode haver graus de realidade na experiência. Grandes instrutores ensinam que o grau mais elevado é a existência na Natureza de um Princípio ou Energia onipresente, criativa no mais alto grau, que transmite a tudo sua vida e consciência. Se Deus é a Realidade, tocamos a Realidade quando nossa consciência humana toca a natureza divina em nós mesmos.

 

A Realidade em nós mesmos

 

            Sendo a Realidade subjetiva, para penetrar nesse reino e respirar seu ar, muito embora por um instante, a pessoa deve realizar um completo despojamento do eu, de seus acúmulos, da identidade criada pelo contato com coisas materiais e sensações.

            Tudo no mundo é julgado por nós em termos do que percebemos como real, por mais limitada que seja essa percepção. Uma experiência pessoal pode ser uma ilusão, mesmo assim, qualquer coisa com a qual a consciência esteja em contato parece real durante algum tempo.

            A consciência do Real é aquela que definitivamente rompeu suas limitações, os grilhões. A senda espiritual, no Oriente, é dividida em estágios. A Libertação de toda imposição exterior, que não é meramente um fim, mas um processo, torna possível expressar a Verdade que está dentro de si.

            Não é possível obter qualquer sabedoria espiritual sem estar preparado para isso. Deve haver uma faculdade, como a do cisne lendário, para absorver somente o que nutrirá a alma e deixar o restante.

 

A Realidade no viver

 

            Quem busca a Verdade, tem de aprender como viver, e isso só é possível por uma íntima observação de si mesmo em todos os aspectos de seu Ser e em todas as suas relações com pessoas e coisas. Cada momento de integridade representa o estado que é o máximo em si mesmo.

            Tem de haver uma preparação para nos tornarmos o terreno para manifestação da Verdade. A primeira criação no processo de Autorrealização, a descoberta da Verdade oculta, é a de nós mesmos como um vaso da Verdade. Isto é uma obra de arte. A pessoa deve tornar-se perceptiva das forças que desviam suas energias e as contradições que criam nela mesma. A falta de acordo entre o ser interno e a natureza externa é a verdadeira causa de nossa frustração e infelicidade.

            Devemos ter um ideal sublime. Não se deve querer deixar o mundo antes de aprender a suportá-lo e ajudá-lo. É necessário unidirecionalidade, não perambular aqui e ali. O amor nos deixa em sintonia com a verdadeira natureza de todas as coisas e disso surge uma paz profunda.

            Dedicação não é um estado passivo de se sentir devoto. Deve ser uma vontade inquebrantável embora adaptável da maneira mais delicada, vibrando através de cada faculdade do ser pessoal. Não há contradição entre interior e exterior, a consciência deve voltar-se a ambos. É no processo da vida pessoal que a descoberta da Realidade é feita. O despertar dentro de nós é o resultado da Reta-Ação.

 

A Lei do Reto Relacionamento

 

            A única verdade na qual a consciência pode repousar em paz é a da natureza da Unidade sob toda diversidade. Se há apenas a Vida Una em todas as coisas que existem nos níveis espiritual, psíquico e material, todas as coisas, nesses níveis, devem estar relacionadas. Esse relacionamento é um padrão, uma fundação, sobre a qual todos os desenvolvimentos devem ser construídos. Toda evolução é o processo dessa construção.

            Nossa relação com qualquer coisa ou pessoa tem dois lados, um externo e um interno, como no Universo. As relações externas são de Karma, tempo, lugar e circunstâncias; as internas são as relações de afinidade, de Espírito e Raios espirituais. O externo está propenso a seguir o interno. Formas externas são todas diferentes, mas não precisam dividir. Em todo relacionamento externo há diferentes desenvolvimentos, experiências, capacidades e inclinações. Mas em qualquer relação externa pode haver a expressão da igualdade interna. Fraternidade é o básico e único reto relacionamento, pois todos somos expressões da Vida Una.

 

Teosofia, uma síntese abrangente

 

            Teosofia é a Sabedoria Divina declarada em toda a Natureza. Todo conceito sobre Deus e a tudo relacionado a Ele, incluindo a natureza e o homem, não deve contrariar os fatos ou negar nossa experiência. As observações da Ciência são fatos, mas nem todas as inferências que se fazem sobre as observações o são. O observado é uma aparência, uma forma. Há por trás uma profundeza de fatores causais. A tentativa de conhecer esses fatores e sua ação dá origem ao Ocultismo. “Oculto” é apenas aquilo que é desconhecido.

            A Sabedoria Divina deve abarcar tudo que é visto e não visto, toda vida e forma, objetivo e subjetivo, para o ser humano. Só pode haver síntese se houver harmonia ou coerência no que é observado, isto é, no Universo. A Teosofia, uma visão moderna da Sabedoria Antiga, afirma que de fato há um Princípio harmônico no Universo. O Universo é entendido como a expressão de uma energia onipresente, que é a Vida Una.

            Uma visão profunda e oniabarcante pode assimilar o que quer que seja verdadeiro em qualquer Filosofia, Religião ou Ciência. Nosso conhecimento da Sabedoria Divina deve necessariamente ser parcial e limitado. No entanto, a visão que obtivermos pode ser para nós uma visão completa, compondo um esboço completo.

 

Imaginação e Realidade

 

            A imaginação é uma faculdade que vai acima e além da observação e raciocínio, dá amplitude e altitude à mente. É um poder divino, pois cria na mente coisas que podem ser depois materializadas. Se ela projetar não apenas ideias preexistentes, penetra-se na fronteira entre o conhecido e o desconhecido, não o âmago do desconhecido, mas seu horizonte próximo.

            “Imaginação” significa criação de imagens. Todo pensamento move-se por imagens. Mesmo que pensemos em uma abstração, um símbolo matemático, este assume alguma forma em nossas mentes. Criamos com a imaginação e vontade. Vontade não como aplicação de uma força, mas Vontade do Espírito que provoca ação e produz uma chama. Com esse par as maiores realizações são possíveis.

            A imaginação varia com a natureza da pessoa que imagina, e deve-se buscar aquela que não se distancia da Realidade, e não a fantasia. Nossa imaginação se baseia na experiência, um cego de nascença não consegue imaginar as cores, por melhor que se lhe descreva. Ainda assim, se alguém nos descreve uma experiência que não tivemos, podemos imaginá-la e, mesmo com as suas limitações, tornar-nos sensíveis a essa experiência e refletir sobre ela. A imaginação nos leva a níveis mais amplos em pensamento e ação, e se expande com o aumento da capacidade mental. A imaginação do que está além do alcance de nossa experiência nos dá um conceito do todo do qual nossas experiências são uma parte, além de aumentar nossa capacidade de sentir e perceber.

 

A Forma Pura

 

            Toda ideia, inclusive toda emoção, que surge dentro de nós, busca uma expressão natural, sua forma própria de expressão do que ela contém. Quando a ideia é verdadeiramente bela, a expressão ou gesto será também bela. Vida e forma tendem a combinar. Uma vez que ideia e forma estão relacionadas, a forma deve sugerir a ideia.

            Diz-se “idealmente belo” para falar da verdadeira beleza, que não depende das noções individuais do que é belo. Prefere-se, portanto, a expressão “forma pura”. Essa pureza surge na consciência do indivíduo quando nada de estranho a ela lhe modifique ou distorça. A natureza de sua resposta e ação é então de uma profundeza apropriada. A Energia Una Universal pode atuar sobre essa consciência e a partir do interior criar um canal apropriado para sua expressão. Uma consciência assim é como uma caixa de ressonância para a música do Espírito. Seguindo sua energia, sua tendência, sua tendência e sua lei, experimenta a máxima liberdade.

            A criação da beleza ideal em uma forma de pensamento, palavra, música, escultura, pintura, arquitetura ou dança, toca nos observadores, quando são sensíveis, aqueles centros de consciência e a ajuda a atuar em um plano mais próximo da Realidade.

 

O Ser Supremo

 

            “Logos” (inteligência, razão, mente) se entende como a Fonte da Vida e Inteligência, a lei do processo mundial, o mediador entre Deus e o homem, a razão Divina, o Princípio Cósmico unitário. Razão implica estabelecimento de relações e tudo o que podemos conhecer deve de alguma maneira estar relacionado a nós. Quando em algum grau tivermos atendido ao conselho “Conhece-te a ti mesmo”, esse conhecimento deverá, através das relações, nos levar a todos os outros tipos de conhecimento.

            Para os filósofos, tudo evolui através do Logos. Ele contém na forma de Sua presença a fórmula de seu desenvolvimento. A semente do lótus contém em si toda a configuração do lótus, e é assim com tudo. O conceito de Unidade na pluralidade é que existem inúmeros Logoi, mas todos são fatores de um Logos ou emanações da Unidade.

            O que é dito sobre o Logos parece remoto e fantasioso, mas Ele não é distante e abstrato, é uma Realidade aqui e agora. É um raio no coração de cada pessoa, iluminando-o, talvez fracamente, moldando-o sutil e gradualmente, para que possua beleza singular, seja um instrumento perfeito para transmitir uma mensagem que aguarda ser proferida.

 

Ser e Vir a Ser

 

            A Natureza é um vir a ser, pois representa um processo, uma continuidade. Dentro de cada coisa há algo que vem a ser – a natureza da coisa, sua vida e consciência. A mudança é descrita pela ciência como evolução. O indivíduo muda o tempo todo, contudo, em meio a este vir a ser, há uma natureza que está sempre no estado de ser. O Ser Divino reside no indivíduo num estado que não precisa tornar-se diferente do que é. Ser é um estado perene de integridade onde não existe vazio.

            Quando o estado de Ser toca nossas mentes num momento receptivo, traz um senso de unidade e comunhão. O sentimento de que o outro é separado é esquecido por um instante. O outro é diferente, sim, mas não separado. O amor nunca é autocontido, ele é expansivo, é a própria natureza do sujeito puro, e brilha sobre um objeto como a luz do sol deve brilhar sobre uma árvore. Na integralidade pessoal, há felicidade absoluta. Essa luz à medida que penetra o vir a ser cria mais possibilidade de discernimento.

            O tipo específico de perfeição rumo ao qual cada coisa está evoluindo, junto a todas as outras coisas, forma um todo, pois todas são aspectos do Ser Uno, que é perfeito.

 

A Natureza da Sabedoria

 

            Sabedoria é uma qualidade do sujeito puro, reside na maneira como ele vê e responde. Sabedoria e conhecimento não são a mesma coisa, mas conhecer a si mesmo como se é, é ser sábio. O conhecimento de todos os objetos, artes e ciências, é o conhecimento inferior. O conhecimento daquilo por meio do qual tudo mais é conhecido é o superior. O conhecimento da natureza do sujeito, de Deus ou do Eu Uno, é a sabedoria. Nosso conhecimento é apenas a forma, mas a Sabedoria é o conhecimento do que a forma contém e existe para expressar.

            O propósito para a existência de uma coisa é o serviço que ela oferece, sua parte no processo evolutivo, sua ação sobre todas as outras coisas. Mas cada coisa existe também para si mesma como expressão do Deus interior. O objetivo mais elevado de cada coisa é ser o que deve ser, não precisa de outra justificativa para sua existência. Sabedoria implica no conhecimento do significado das coisas, que é manifestação do seu fim último. Existe um propósito em cada coisa, todos subordinados ao propósito uno original. Quando este propósito é realizado como pessoal, há sabedoria.

            Sabedoria não é uma questão de estudo, mas de vida e ação. Surge do conhecimento guiado pelo amor, pois amar é uma forma de conhecer. Quanto mais sabemos, mais compreendemos o quão pouco sabemos. Os sábios são humildes. Alguém pode possuir um vasto lastro de conhecimento e, contudo, ser fundamentalmente tolo. Por outro lado, é possível com pouco conhecimento ser grandemente sábio. A sabedoria reside menos no que aprendemos e mais em nossas reações a esse aprendizado, menos na quantidade e mais na qualidade de nosso conhecimento, menos no acúmulo de fatos e nomenclatura, e mais no conhecimento de princípios, menos na posse de ideias e mais no reto emprego delas, menos em tudo que acumulamos e devemos espalhar, e mais no que que assimilamos da textura desse Ser que é um reflexo imortal do Espírito Universal.

            A sabedoria, como expressa na Natureza, é um princípio ordenador e criativo. Lei e Ordem estão eternamente unidas. “Ordem é a primeira lei dos céus”. Conforme o ser humano cria à semelhança desse Ser, que é ele na eternidade, ele desabrocha sua sabedoria.

 

A outra natureza do Novo

 

            O que é mais importante para alguém saber é o que está envolvido em seu viver e como esse viver está sendo moldado, por que influências é afetado e modelado. Há muitas coisas de interesse, mas devemos começar pela compreensão de nós mesmos. Tendemos a pensar que nossas vidas são o que são por causa das circunstâncias, as condições nas quais somos obrigados a viver. Dificilmente paramos para pensar em nossas ações e reações nessas condições, mas são elas que determinam o caráter de nosso viver.

            Raramente sonhamos que possa haver uma abordagem de vida nova a cada coisa que nos ocorre. Se estivermos perceptivos desse processo de sermos condicionados pelas várias influências, e conseguirmos manter-nos separados delas, aquela outra natureza do Novo, que pertence ao mais profundo de nosso Ser, consegue se manifestar. Essa natureza está na compreensão de sabedoria, virtude, beleza, amor, e de conceitos teosóficos como Budhi e Atma. Deve haver uma nova compreensão em relação a todas as coisas. A sabedoria está em agir segundo a verdadeira natureza das coisas.

            A compreensão deve estar baseada na percepção da Verdade e deve, portanto, ter uma natureza de abertura e sensibilidade. A Verdade exige uma percepção semelhante à percepção da beleza. Essa sensibilidade, em que existe a mais elevada qualidade de inteligência, jamais é perdida através dos incidentes e nem da passagem do tempo. À medida que a atenção se volta para o interior, a perspectiva revelada e a beleza experimentada são uma revelação tanto da Verdade quanto do aspecto externo das coisas. Esta viagem ao interior é uma maneira de despertar a percepção e dela surge uma Nova compreensão de todas as coisas e um Novo modo de vida.

 

A Senda para a Realidade Espiritual

 

            A humanidade busca o que satisfaz e agrada, mas quando isso resulta em cansaço e desilusão, há o desejo por algo que seja mais real, que proporcione alívio, compensação e um escape das tristezas. Busca refúgio e segurança numa condição permanente. O indivíduo começa a buscar uma Realidade fora de suas próprias experiências e das gratificações transitórias e decepcionantes.

            Nenhuma descrição pode nos dar essa Realidade, porque toda descrição nos levará a uma identificação errada por uma mente limitada ao terreno do seu próprio passado. Não podemos saber o que subjaz ao Real ou irreal, até que conheçamos o Real.

            Atualmente, para nós, essa Realidade está em cada coisa bela – no amor, nos pensamentos e expressões mais verdadeiras e mais maravilhosas do ser humano. Ela está aí e brilha o tempo todo, mas só brilhará sobre nós quando mudarmos de atitude, para receber sua luz. O único motivo ou força que resulta em uma livre expansão de consciência pessoal é o amor altruísta, que não é possessivo; ou a compaixão, a delicada simpatia universal que induziu o Príncipe Sidharta a empreender sua busca.

            Uma compreensão gradual, através da inevitável triagem de experiências é o lento caminho da Natureza, mas auxiliada por seu filho inteligente, o homem de livre arbítrio e autocompreensão, o processo pode ser grandemente acelerado. O grande princípio corporificado no Nobre Óctuplo Caminho é a retidão. A busca da Realidade não se dá fora, mas dentro de cada um.

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