Resenha: CONFÚCIO, As lições do Mestre - Traduzido e organizado por André Bueno
Livro: Confúcio – As lições do Mestre.
Autor: André BUENO
(tradutor e organizador).
Resenha por: Gerson Anderson de Carvalho Lopes
Macapá, 11
de setembro de 2024.
O livro que hoje estou resenhando é “uma seleção dos
principais trechos do Lunyu, o texto básico da doutrina confucionista”,
conforme escreveu o sinólogo André Bueno, responsável por essa tradução
diretamente do chinês e pela organização do livro. Segundo Bueno, “Lunyu
pode ser traduzido de diversas maneiras: ‘diálogos’, ‘analectos’ ou ‘lições’”.
De fato, foi pelo título de “Os Analectos” que pela primeira vez tomei contato
com a filosofia de Confúcio, no ano de 2010. Resolvi escrever, como abertura da resenha, um pouco desse meu contato com o pensamento de Confúcio e apresentar
uma breve introdução às ideias desse grande pensador ao leitor que porventura
não o conheça. É o que passo a relatar a seguir.
Naquele ano, 2010, eu ingressava no primeiro nível de uma
escola de filosofia em Macapá, e um dos componentes desse curso introdutório
era a Ética, que consistia em um apanhado de vários ensinamentos de diferentes
filósofos, ocidentais e orientais, sobre a melhor forma de se viver, a melhor
conduta que deveríamos buscar praticar de acordo com princípios universais de
justiça, sabedoria e valores transcendentes. Ali se inseria Confúcio como um
dos temas estudados, e nós discutíamos trechos da sua obra “Os Analectos”, que
falavam sobre educação, cultura, política, justiça, entre diversos outros
assuntos.
Não recordo de ter ouvido falar em Confúcio antes de
2010, e naquela altura fiquei muito impactado com a profundidade do pensamento
desse grande Mestre, um dos maiores da China, junto com outro que eu também
passei a conhecer naquele ano, dentro desse mesmo curso, que foi Lao Tsé, um
dos principais expoentes da filosofia Taoísta e autor de uma obra chamada Tao
Te Ching, sobre o qual também já escrevi uma resenha, publicada neste blog.
Confúcio e Lao Tsé falavam das mesmas verdades
universais, da necessidade de o homem buscar valores elevados para a sua vida,
de fugir de banalidades e trivialidades e dar um sentido profundo a todas as
suas ações. É o que chamaríamos nos dias de hoje, do processo de
autoconstrução, autoformação, quase uma lapidação diária e contínua, em que o
indivíduo vai se refinando à medida em que vai deixando de lado as suas
atitudes mais grosseiras e passando a adotar uma forma de vida moral mais de
acordo com a Natureza, com a Vida, mais íntegra, generosa e pura.
Porém, os dois Mestres diferiam na maneira de conduzir a
vida até chegar a esse Ideal. Lao Tsé era mais metafísico, levando uma vida de
meditação e afastamento do mundo, buscando encontrar a si mesmo em seu
interior, para assim chegar a entrar em contato com essa Realidade mais suprema
e sutil. Confúcio, em contrapartida, adotava uma estratégia mais política, ele
acreditava que não deveria jamais se afastar das pessoas, pois era em contato
com elas, ensinando-as, educando-as, formando-as pelas lições e pelo exemplo
que ele tornaria os homens melhores, mais capazes de viver de acordo com esses
princípios elevados.
Confúcio foi um grande Educador, assim mesmo com letra
maiúscula! Viajou toda a China de seu tempo, ensinando cultura e humanismo,
resgatando as tradições que, já naquela época, o povo começava a esquecer ou
deturpar. Ele era um incansável professor, que buscava conduzir os seus
discípulos ao melhor que eles poderiam chegar a ser, o que ele chamava de Ju, o
modelo de ser humano mais virtuoso. Confúcio acreditava que era só assim,
formando seres humanos melhores, que as nações poderiam chegar a serem Estados,
o mais próximo da ordem perfeita, que ele chamava de Li, um país ou sociedade
regido pelos melhores princípios, de ajuda mútua, virtude, crescimento, e não
em dominação, exploração ou disputas de poder.
Os ensinamentos de Confúcio que chegaram até nós, foram
uma série de excertos, frases que ele teria dito em vida em diversos contextos
e que foram anotadas pelos seus alunos e amigos e em algum momento compiladas
na forma do Lunyu, ou os Analectos. Lembro que na apostila do curso que
eu fazia tinha várias frases de Confúcio. Um pouco depois, tomei contato com o
livro, de capa vermelha na biblioteca da escola, o qual cheguei a folhear por
diversas vezes, mas não ainda tinha o lido por completo, até mesmo pela forma
do texto, consistindo em várias frases independentes, que não precisam de uma
sequência para serem lidas – você pode simplesmente abrir o livro numa página
aleatória e encontrar ali um ensinamento útil e profundo, que vai lhe servir
muito bem.
No ano de 2013, me tornei instrutor naquele mesmo curso,
e passei a ter que ler de modo mais detalhado os livros do 1º nível para poder
explicá-los aos alunos. Ali foi a primeira vez que lembro de estudar mais
sistematicamente os Analectos. Desde então, Confúcio tem sido uma de minhas
inspirações. Já inclusive coloquei o audiolivro dos Analectos no Youtube para
ouvir enquanto praticava corrida na praça.
O livro copilado por André Bueno contém trechos dos
Analectos, não a obra inteira, e possuem a vantagem de ter uma linguagem de
mais fácil acesso ao leitor que não está acostumado a ler obras clássicas, que
podem ser bastante difíceis no início. Portanto, essa obra que agora vos
apresento é uma excelente introdução ao pensamento de Confúcio, mas ainda
acredito que, num segundo momento, o leitor deva ir ter contato com os
Analectos em si.
André Bueno é um sinólogo experiente e muito capacitado,
já o conheço de outros livros. Posso dizer que o cuidado dele é sincero em
transmitir o sentido mais próximo ao original quando traduz diretamente do
chinês para o português. A escolha de palavras que ele explica já no seu
prefácio, em utilizar humanismo em vez de benevolência, foi fenomenal, pois o
termo humanismo é de muito mais fácil compreensão e mantém o sentido da
filosofia de Confúcio.
O livro nos ensina sobre a importância de pôr em práticas
as lições aprendidas, e não se contentar simplesmente com as informações ou o
intelectualismo: “Aprender algo e pôr em prática não é bom? ”; “Zigong
perguntou quem é o educado. O Mestre disse: Aquele que pratica o que fala”. Nos
ensina a ter cuidado com o engano das aparências: “Fala bonita e trejeitos
calculados não são sinais de bondade.”. Nos dá ainda várias dicas da boa
conduta diária: “O educado come sem exagero, mora em lugar simples, dedica-se
ao trabalho, fala com cuidado e busca boas companhias”.
Confúcio, sempre preocupado com a promoção da verdadeira
política, fala várias vezes de como deve ser o governante: “Quem governa pela
virtude é como a ursa-polar: mesmo parada as outras estrelas giram ao seu
redor”. Ele também acreditava que o sentido da verdadeira educação era a
formação do indivíduo, não somente o acúmulo de informações: “Nas coisas do
mundo, o educado não tem lado senão o da justiça”; “Estudar sem pensar é
inútil. Pensar sem estudar é perigoso.”.
Outro ponto chave das ideias de Confúcio, é o cultivo da
humildade e simplicidade, sempre diminuindo o ego e a vaidade: “O Mestre
evitava quatro coisas: extravagância, dogmatismo, teimosia e presunção”; “Antigamente,
as pessoas estudavam para crescer. Hoje, elas estudam para se mostrar”. (Já
naquela época!).

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